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terça-feira, 21 de junho de 2011

Música inédita do RADIOHEAD...escuta aí que os caras são geniais. Aumenta o som!!

Puta que pariu, esses caras são foda...

''A ecologia é o ópio do povo''. Entrevistas com Slavoj Zizek

Esta entrevista foi realizada pelo professor Ricardo Sanín, do Departamento de Filosofia e História do Direito da Universidade Javeriana, da Colômbia, sendo cedida a MAGIS por intermédio do professor dos PPGs em Filosofia e Direito da Unisinos, Alfredo Culleton.Sanin e Culleton (também responsável pela tradução e introdução da entrevista) trabalham em cooperação em projeto de desenvolvimento de uma Teoria Crítica dos Direitos Humanos, junto com o professor Costas Douzinas, da Universidade de Londres.

A entrevista foi publicada por Magis, Revista da Unisinos, no. 05, dez 2009-jan 2010.

Eis a entrevista.



O senhor tem insistido que tanto o multiculturalismo quanto os movimentos ecológicos não abordam os problemas políticos verdadeiramente agudos e relevantes para o mundo. Por quê?

O multiculturalismo passa por cima dos problemas políticos verdadeiramente relevantes e agudos quando os reduz a meros problemas culturais. Quando lidamos com um problema real, tanto sua designação ideológica como sua percepção como tal introduz uma mistificação invisível. Digamos que a tolerância designa um problema real. É claro, sempre me perguntam: “Como você pode concordar com a intolerância com os estrangeiros, estar de acordo com o antifeminismo ou ao lado da homofobia?”. Aí reside a armadilha. Evidentemente, não estou de acordo. Ao que me oponho é à nossa percepção automática do racismo como mero problema de tolerância. Por que tantos problemas atualmente são percebidos como problemas de intolerância, em vez de serem entendidos como problemas de iniquidade, exploração e injustiça? Por que o remédio tem de ser a tolerância em vez de a emancipação, a luta política, ou ainda a luta política armada? A resposta imediata está na operação básica do multiculturalismo liberal: “a culturização da política”. As diferenças políticas, diferenças condicionadas pela iniquidade política ou a exploração econômica, se naturalizam como simples diferenças “culturais”. A causa desta culturização é o retrocesso, o fracasso das soluções políticas diretas, tais como o estado social. A tolerância é seu ersatz ou sucedâneo pós-político. A ideologia é, neste preciso sentido, uma noção que, enquanto designa um problema real, dilui uma fronteira de separação crucial.


E quanto à ecologia?

É precisamente no terreno da ecologia que podemos delinear a demarcação entre a política da emancipação e a política do medo na sua forma mais pura. De longe, a versão predominante da ecologia é a da ecologia do medo – medo da catástrofe, humana ou natural, que pode perturbar profundamente ou mesmo destruir a civilização humana. Essa ecologia do medo tem todas as oportunidades de se converter na forma ideológica predominante do capitalismo global, um novo ópio das massas que sucede o da religião. Assume a função fundamental da religião, aquela de impor uma autoridade inquestionável que estabelece todo limite. Apesar de os ecologistas exigirem permanentemente que mudemos radicalmente nossa forma de vida, é precisamente isso que subjaz a essa exigência no seu oposto, isto é, uma profunda desconfiança em relação à mudança, em relação ao desenvolvimento, em relação ao progresso: cada transformação radical pode conter a consequência inestimada de detonar uma catástrofe. É exatamente essa desconfiança que converte a ecologia em um candidato ideal para tomar o lugar de uma ideologia hegemônica, pois faz eco da desconfiança em relação aos grandes atos coletivos.


Afinal, de qual natureza estamos falando?

A “natureza” como condição de domínio, de reprodução balanceada, de implantação orgânica dentro da qual intervém a humanidade com a sua desmedida, destruindo brutalmente sua moção circular, não é outra coisa que a fantasia do ser humano; a natureza já é de fato uma “segunda natureza”, seu equilíbrio é sempre secundário, trata-se de uma tentativa de negociar um “hábito” que restauraria alguma ordem depois das intervenções catastróficas. A lição que devemos colher é a de que, se não podemos estar seguros de qual será o resultado final das intervenções humanas na biosfera, uma coisa é certa: se a humanidade detivesse abruptamente sua imensa atividade industrial e deixasse que a natureza tomasse seu curso equilibrado, o resultado seria uma ruptura total, uma catástrofe inimaginável. A “natureza” na Terra está tão adaptada às intervenções humanas, a “contaminação” humana está a tal ponto incluída no frágil e instável equilíbrio da reprodução “natural”, que a interrupção intempestiva da ação humana causaria um desequilíbrio catastrófico. É isso precisamente que demonstra que a humanidade não tem como retroceder: não só não há um “grande Outro” (uma ordem simbólica autocontida que seja a última garantia do significado), assim como também não existe uma natureza que contenha uma ordem equilibrada ou de autoprodução e cujo equilíbrio tenha sido perturbado e descarrilado pela intervenção humana desbalanceada. Não só o grande Outro tem sido “gradeado”, a natureza também.


Existe o mito fundamental segundo o qual o liberalismo é o lar da democracia. É a democracia uma produção do liberalismo?

Não, todas as características que hoje identificamos com a democracia liberal e com a liberdade (sindicatos, sufrágio universal, educação universal e gratuita, liberdade de imprensa etc.) foram obtidas pelas classes mais baixas em uma longa e difícil luta no transcurso do século XIX. Tais lutas estavam longe de ser uma consequencia “natural” das relações capitalistas. Lembra a lista de demandas que conclui o Manifesto Comunista: a maioria delas – à exceção da abolição da propriedade privada dos meios de produção, precisamente como resultado das lutas populares – hoje é amplamente aceita nas democracias “burguesas”. Outro aspecto que se ignora constantemente: hoje, a igualdade entre brancos e negros se celebra como parte do “sonho americano”, se percebe como um axioma ético-político. Sem dúvida, nos anos 1920 e 1930 do século passado, os comunistas dos Estados Unidos foram a única força política que argumentou a favor da igualdade absoluta entre as etnias. Aqueles que defendem a existência de um vínculo natural entre o liberalismo e a democracia estão equivocados.


Pode a política ser sublime em uma era pós-ideológica?

A tendência geral é para o ridículo. A figura do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, é aqui fundamental, visto que hoje a Itália é efetivamente um tipo de laboratório experimental do nosso futuro. Se o cenário político é dividido entre um tecnocratismo permissivo-liberal e um fundamentalismo populista, Berlusconi tem o grande mérito de ser ambos ao mesmo tempo. É sem dúvida esta combinação que faz dele imbatível, pelo menos em um futuro próximo: a histórica “esquerda” italiana agora resignadamente o aceita como destino. Essa aceitação silenciosa de Berlusconi como destino é talvez o aspecto mais triste de seu reinado. Seus atos são cada vez mais inescrupulosos: ele não só ignora ou politicamente neutraliza juridicamente as investigações sobre suas atividades criminosas para impulsionar seus interesses comerciais privados, como também busca minar sistematicamente a base da dignidade do chefe de Estado. A dignidade clássica da política é baseada na sua elevação acima do jogo de interesses específicos na sociedade civil: a política é "alienada" da sociedade civil, apresenta-se como a esfera ideal do cidadão, em contraste com o conflito de interesses que caracteriza a burguesia como egotista. Berlusconi efetivamente acaba com essa alienação: hoje na Itália, a base burguesa impiedosa e abertamente explora o poder estatal como um meio para a defesa dos seus interesses econômicos. E lava a roupa suja de seus conflitos maritais privados à maneira de um reality show vulgar, diante de milhões de espectadores sentados nos seus sofás. A aposta de Berlusconi nas suas indecentes vulgaridades está, naturalmente, em que as pessoas vão se identificar com ele, na medida em que ele aprova a mítica imagem ampliada da mídia italiana: “Eu sou um de vocês, um pouco corrupto, com problemas com a lei, tenho problemas com a minha mulher, porque outras mulheres me atraem...” Mesmo sua grandiosa promulgação como um grande e nobre político, il cavalliere, é mais como uma ópera ridícula do pobre homem com sonho de grandeza. E, no entanto, essa aparência de "um homem normal como todos nós” não deve nos iludir: por baixo da máscara desajeitada há um poder estatal que funciona com eficiência impiedosa.
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Slavoj Zizek é um dos principais pensadores europeus atuais. E também extremamente controverso. O filósofo e sociólogo esloveno escreve sobre temas como Lenine, ciberespaço, pós-modernismo, pós-Marxismo ou Alfred Hitchcock. E diz que "detesta pessoas". Abaixo, uma entrevista com ele, concedida à Euronews.

Euronews: O senhor é convidado do Festival de Cinema de Sarajevo… qual é o papel dos filmes e do cinema na sociedade de hoje?

Slavoj Zizek: Primeiro, eu continuo a ser um marxista à moda antiga. Portanto, eu acho que o cinema é hoje um campo de batalha ideológica, alguma batalha decorre aí e até podemos ver isso claramente no que respeita à horrível Guerra dos Balcãs. Temos alguns filmes acerca disto que são autênticos, mas, infelizmente, os maiores sucessos não o são. Esse é o caso do “Underground” do Emir Kusturica. Eu acho que esse filme é quase uma trágica – eu não diria que é uma falsificação equívoca – no sentido em que: “Que imagem é que esse filme te dá da ex-Jugoslávia?” A de uma parte do mundo maluca, onde as pessoas fornicam, bebem e lutam todo o tempo. Ele exibe um certo mito que o Oeste gosta de ver aqui nos Balcãs: este mítico outro, que permanece durante um longo período.

Euronews: Como explica este fenómeno?

Slavoj Zizek: Pode dizer-se ironicamente que os Balcãs estão estruturados como o inconsciente da Europa. A Europa põe e projecta todos os seus segredos sujos, obscenidades e por aí fora nos Balcãs. É por isso que a minha fórmula para o que está a acontecer nos Balcãs não é como as pessoas usualmente dizem que são apanhadas nos seus velhos sonhos, que não podem enfrentar a realidade ordinária pós-moderna. Não, eu diria que elas são apanhadas nos sonhos, mas não nos seus sonhos – nos sonhos europeus. O filósofo francês Gilles Deleuze disse uma coisa maravilhosa: “Se fores apanhado nos sonhos dos outros, estás feito”. Portanto, o cinema deve mostrar precisamente que este folclore excêntrico em alguns lugares pode fazer parecer que somos todos parte de um mundo global.

Euronews: Sarajevo é também uma cidade simbólica para o multiculturalismo, mas tem uma opinião muito particular acerca da tolerância multicultural, não tem?

Slavoj Zizek: Eu acho que aqui já tivemos o suficiente desta ideologia multicultural, que para mim, pelo menos, é frequentemente um racismo invertido, designadamente quando as pessoas vêm cá. Normalmente, multiculturalistas diriam: “Oh, eu quero entender como tu és diferente”. Não, o que se deve entender fundamentalmente é que eles aqui não são diferentes – apenas coisas diferentes lhes aconteceram e para o tornar tolerável para nós, que gostaríamos de ter evitado a guerra, no Ocidente fizemos as pessoas diferentes. O que precisamos hoje em dia é de códigos de conduta, não de mais entendimento. Eu acho que nos deveríamos opor totalmente a esta chantagem liberal de que temos que nos entender uns aos outros. Não, o mundo é demasiado complexo, não podemos. Detesto pessoas. Não quero entender as pessoas. Quero ter um certo código em que eu não entendo o teu estilo de vida e tu não entendes o meu, mas podemos coexistir.

Euronews: Por que razão podemos sentir aqui, em Sarajevo, desilusão, após a detenção de Radovan Karadzic?

Slavoj Zizek: A verdadeira tragédia é, como alguns inteligentes políticos bósnios realçaram, que basicamente Karadzic teve sucesso. O seu programa foi que uma grande parte da Bósnia deveria ser reservada e etnicamente limpa para os sérvios. Foi isto que efectivamente aconteceu: a República Srpska é 51 por cento do território e tem menos 10 por cento dos outros, não sérvios. Portanto, a ironia é… isto é como César morreu, César ganhou… para isto é demasiado tarde. Esta é a hipocrisia: condena-se o homem, o projecto vingou.
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Slavoj Zizek, um sujeito incômodo

Em entrevista à Folha, por telefone, ele apontou sua metralhadora teórica na direção de assuntos como levantes populares, bullying e falsa liberdade.

Folha - No livro "Em Defesa das Causas Perdidas", o sr. defende a "hipótese comunista", uma alternativa ao capitalismo, e fala em ditadura do proletariado. Essa terminologia não gera resistência?
Slavoj Zizek - Quero deixar claro que o comunismo do século 20 está morto e que não sou um ingênuo que acredita num grande retorno do Partido Comunista. O stalinismo foi a materialização do horror. Defendo o uso desses termos porque qualquer conservador moderno de direita sai por aí dizendo que precisamos de mais solidariedade.
Por outro lado, são termos que se referem à memória coletiva da humanidade e remetem a momentos em que existiram explosões populares igualitárias verdadeiras. Não se trata de repetir o modelo fracassado, mas de preservar o momento em que foi possível ter a liberdade de pensar e agir segundo a ideia de que o capitalismo não é um fato dado.

Joao Wainer/Folhapress
O filósofo esloveno Slavoj Zizek durante visita à Folha, em 2003
O filósofo esloveno Slavoj Zizek durante visita à Folha, em 2003
Um de seus argumentos para defender o comunismo é a questão da propriedade intelectual. Por que diz que o conceito de conhecimento é comunista?
O conhecimento é naturalmente comunista, o que quer dizer que já inclui a ideia de algo feito para ser compartilhado. E isso não pode ser transformado numa "commodity" de mercado. Vamos pensar em apenas dois exemplos importantes: a propriedade do patrimônio biogenético e ecológico, incluindo aí todas as recentes descobertas científicas, o genoma etc.
Estamos falando do controle privado da nossa substância genética e do ambiente em que vivemos. O conhecimento é nossa substância simbólica e pertence a todos, não pode ser de grupos privados. Outro dia, um grupo de estudantes me pediu originais de um livro meu para "pirateá-lo" entre os colegas. Atendi imediatamente.
Em "Primeiro como Tragédia, Depois como Farsa", o sr. fala que a crise de 2008 foi um embuste que revelou novas formas de colonialismo. Que formas são essas?
A crise de 2008 foi uma farsa no sentido de que foi um reflexo esperado das medidas tomadas nos EUA em 2001 --redirecionar o foco das empresas de internet que estavam falindo para o mercado imobiliário. É claro que a bomba estourou, mas a novidade é que essa crise planejada afetou os países muito seletivamente.


O Brasil passou bem pela crise...
Lula entendeu algo muito importante, que a esmagadora maioria da esquerda mundial não entende: o capitalismo de hoje não é um sistema hegemônico. Está cheio de inconsistências e divisões internas. A crise de 2008 foi uma crise do capitalismo global, mas, ao mesmo tempo, nos mostrou que estamos entrando numa era multicêntrica. Antes, se as economias norte-americana e dos principais países europeus iam bem, tudo ia bem. Agora, as coisas mudaram.
Isso pode ser bom por um lado, pois podemos pensar que o imperialismo norte-americano não é mais tão poderoso. Mas também traz um novo perigo: já podemos falar da emergência do colonialismo econômico chinês. A China patrocina governos corruptos locais para poder explorar recursos minerais, por exemplo, e manter seu lugar de destaque no mercado.
Aqui, queria fazer um parêntese e uma crítica a Lula. Talvez para mostrar que o Brasil não é mais dependente dos EUA, ele apoiou Mahmoud Ahmadinejad quando as eleições foram contestadas no Irã. Para mim, foi um erro terrível.


A seu ver, Lula deveria ter apoiado o outro lado?
Sim! Mir Hossein Mousavi, o candidato que foi roubado nas eleições, não era mais um liberal pró-ocidental oportunista. Na verdade, representava a verdadeira alternativa democrática: veio da revolução liderada por Khomeini [levante islamista que derrubou a monarquia no Irã em 1979].
Mousavi estava no caminho dos levantes que começaram recentemente no Egito e na Tunísia, fenômenos nos quais tenho alguma esperança. Ninguém esperava isso: que exatamente nos países árabes tivéssemos movimentos democráticos emancipatórios desse tipo.


Por que países como a França e a Inglaterra ficaram tão reticentes quanto ao levante no Egito?
O discurso norte-americano e da Europa Ocidental foi sempre o seguinte: as intervenções nos paí¬ses árabes acontecem no sentido de evitar levantes fundamentalistas e estimular a liberdade, a luta pela democracia etc. Muito bem: é exatamente isso o que aconteceu no Egito, e eles não ficaram contentes, mudaram o discurso. Mas de fato há razões para que eles fiquem assustados.
O que está acontecendo no Egito não é simples. Não se trata apenas de um "queremos ser uma democracia liberal". As pessoas no Egito estão lutando por algo diferente, por algo novo.
O importante é o que acontece no que chamo de "o dia seguinte", ou seja, como as reivindicações são institucionalizadas em uma nova ordem.


E como lê a situação da Líbia?
O episódio Gaddafi não traz nada de novo. É a repetição da fórmula que inclui intervenção militar, envio de ajuda humanitária etc. Ou seja, é um episódio que pode ser lido dentro da lógica da guerra ao terror americana. A Líbia não vive nada realmente novo, ao contrário do Egito.


O sr. estabelece uma relação direta entre capitalismo e bullying. Por que esse último se transformou numa espécie de paranoia mundial?
O paradoxo é o seguinte: de um lado, temos a permissividade capitalista, e do outro, uma sociedade mais regulada do que nunca. Ou seja, em princípio, não há regras rígidas a serem seguidas, mas, ao mesmo tempo, tudo o que você disser ou fizer pode ser apontado como ofensa ou ameaça.
O cerne da questão trata do velho problema cristão de "amar o próximo". Cada vez mais, nosso próximo é percebido como ameaça em potencial. Isso tem ligação direta com a política do medo pós-11 de Setembro. Com a desculpa de proteger a população de possíveis novos atentados, os níveis de vigilância chegaram a patamares absurdos, liberdades foram cassadas e o clima de pânico, instaurado. A verdade é que, apesar de todo o discurso liberal, vivemos numa das sociedades mais controladas de todos os tempos.
Existe algo muito errado com essa subjetividade ultranarcisista que está surgindo desse cenário. Temos de falar de um exemplo muito importante: o ato sexual apaixonado está sendo abandonado. O último filme de "James Bond", por exemplo, "Quantum of Solace" (2008), é o primeiro da série em que não existe uma cena de sexo entre Bond e a "Bond girl". Em "O Código da Vinci" também não há sexo, embora o ato sexual exista nos romances que deram origem ao filme.
A indústria do cinema sempre teve o papel de acrescentar sexo aos roteiros para torná-los mais atraentes. Então, em que espécie de mundo estamos quando Hollywood precisa retirar o sexo dos filmes? Estamos falando de uma economia de relações baseada no medo.


O sr. tem batido muito na tecla da "farsa ecológica" alimentada pela culpa das elites. Não existe de fato uma ameaça ecológica?
Existem problemas graves, é óbvio, mas as soluções para eles não estão nas "ecobags" ou noutra idiotice desse tipo. Entre as classes média e alta, é chique dizer que você é "consciente", que recicla lixo e se preocupa com o ambiente. Isso é imbecilidade, me desculpe.
É praticamente uma superstição, algo que tira a sua culpa e faz você se sentir bem. Os ecologistas radicais são os maiores críticos desse tipo de ritual da elite, eles chamam isso de "lifestyle" ecologista e pesquisas provam que o impacto positivo desse tipo de atitude no cenário global é irrelevante.

Nos livros "Em Defesa..." e "A Visão em Paralaxe", o sr. aponta as favelas como foco potencial de ideias de organização revolucionárias. Não há também uma idealização dos favelados?
Sim, é claro. Não se trata de idealizar os pobres como vítimas boa¬zinhas. Meus amigos intelectuais do Rio queriam me levar num desses passeios turísticos pelas favelas cariocas, uma coisa horrível. O que penso é que nas favelas há a organização dos que foram ou ainda são excluídos pelo poder público. É claro, há o tráfico e as igrejas que suprem essa falta, mas isso pode mudar. As favelas não precisam de caridade, precisam de alianças.

domingo, 5 de junho de 2011

“Eles não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir” - Por que devo lutar?


A realidade apática e acrítica da juventude, dos trabalhadores, dos intelectuais e das demais “classes socioculturais” não é uma situação difícil de observar atualmente e muito menos agradável de constatar. Os contemporâneos da super-explosão midiática do início da primeira década deste século são também os “analfabetos funcionais” sobre as possibilidades sociais e políticas dessa mesma massa midiática, mais precisamente a internet. Esse potencial ficou provado na Espanha recentemente com a onda de protesto que se auto-intitulou no twitter de @espanishrevolution (ou 15-M), onde milhares de universitários protestaram (ainda protestam, já que cerca de cem mil desses jovens estão ainda em ação). Protestos assim já haviam acontecido em outros países Europeus e também nos EUA, pois a mobilização através da rede mundial obteve bons resultados em todos estes casos, reafirmando assim que um “cyber ativismo” é perfeitamente viável e competente na luta pelos interesses sociais. O que torna tal engajamento melhor ainda é que os governos não conseguem combater essas insurreições promovidas e/ou divulgadas na grande rede por se tratar de algo extremamente novo e de organização dispersa e voluntária, diferentemente do que ocorre num partido ou sindicato, por exemplo. Por mais diferente que esse movimento espanhol seja das recentes rebeliões árabes há todo um momento social no velho continente que almeja a revoluções similares:


“As praças da Espanha poderiam ser um fenômeno conjuntural, de alguns dias de duração. Mas tudo indica que não é. Apesar do movimento não apresentar a massividade das revoluções árabes e seja mais de uma vanguarda jovem, impactaram as massas e tendem a se transformar em assembléias populares ao estilo da Argentina em 2001. É a expressão mais avançada de uma nova etapa que se abriu na Europa, com centro na Espanha e na Grécia, mas que tende a repercutir em outros países. A conexão dos movimentos na Espanha com o processo mais profundo da revolução árabe gera sua permanência.”[1]
Olhando para as repercussões e os indiscutíveis sucessos das insurreições que ocorreram no velho continente percebemos que as armas para se rebelar de forma eficaz contra todo tipo de opressão está facilmente ao nosso alcance também aqui no Brasil ou em qualquer país. Entretanto não vemos interesse pelas questões políticas mais profundas nem sequer na classe dos estudantes universitários brasileiros. Por mais fácil que seja buscar a culpa desse desinteresse na má educação ou num suposto interesse comum a longo prazo das perspectivas de mudança neste país, não devemos cair nesse discurso fácil, embora real , pois este é vazio quando tratado de forma isolada e como suficiente em si mesmo. Tantas são as possibilidades desse universo de informações e velocidades quânticas quanto são escassas a determinação da população (trabalhadores, estudantes, intelectuais).
O povo brasileiro de uma forma geral está satisfeito com a liberdade de expressão própria das “grandes democracias ocidentais” (Ver José Saramago), mesmo que essa liberdade valha menos do que realmente parece ser. Pergunto: Do que adianta uma liberdade para se expressar quando não se tem expressão ou pior ainda quando não sabemos nos expressar? Renato Russo muito novo, ainda no aborto elétrico já dizia: “se a voz do povo é a voz de Deus, será que Deus é mudo?” Por isso insisto em dizer que não me sinto parte desse povo, não posso compartilhar sonhos com quem adora a própria ignorância. Albert Einstein uma vez escreveu que a liberdade de expressão é inútil para o homem quando este precisa se esforçar demasiadamente de forma que não lhe reste tempo suficiente para dedicar-se ao exercício daquilo que anseia sua felicidade, isto é, o homem não terá o que pensar ou dizer se lhe for podado o direito e o dever de ser feliz junto a sua comunidade (Ver Ciência e Religião, Albert Einstein).
É comum vermos marchas evangélicas ou de qualquer outra doutrina de massa alcançar facilmente um milhão de pessoas, pois elas se sentem representadas e envolvidas por aquilo que dedicam seu tempo, esforço e dinheiro (às vezes muito dinheiro) e nessas marchas “por Deus, com Deus e para a família” (parece um slogan nazista) estão repletas de jovens que abdicaram do prazer de pensar e agir para ter a segurança de crer e obedecer. Pois bem, por que não vemos esse mesmo comprometimento com a vida em sociedade? Sim, digo vida em sociedade porque é isso a política, o meio mais eficaz de discussão e aprimoramento da vida em sociedade. Por isso comece com o mínimo, pergunte-se: Por que NÃO devo lutar?
A juventude é o novo sujeito dinâmico da luta de classes européia. Como gostaria de dizer isso de um suposto povo brasileiro, quem sabe um dia...