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domingo, 5 de junho de 2011

“Eles não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir” - Por que devo lutar?


A realidade apática e acrítica da juventude, dos trabalhadores, dos intelectuais e das demais “classes socioculturais” não é uma situação difícil de observar atualmente e muito menos agradável de constatar. Os contemporâneos da super-explosão midiática do início da primeira década deste século são também os “analfabetos funcionais” sobre as possibilidades sociais e políticas dessa mesma massa midiática, mais precisamente a internet. Esse potencial ficou provado na Espanha recentemente com a onda de protesto que se auto-intitulou no twitter de @espanishrevolution (ou 15-M), onde milhares de universitários protestaram (ainda protestam, já que cerca de cem mil desses jovens estão ainda em ação). Protestos assim já haviam acontecido em outros países Europeus e também nos EUA, pois a mobilização através da rede mundial obteve bons resultados em todos estes casos, reafirmando assim que um “cyber ativismo” é perfeitamente viável e competente na luta pelos interesses sociais. O que torna tal engajamento melhor ainda é que os governos não conseguem combater essas insurreições promovidas e/ou divulgadas na grande rede por se tratar de algo extremamente novo e de organização dispersa e voluntária, diferentemente do que ocorre num partido ou sindicato, por exemplo. Por mais diferente que esse movimento espanhol seja das recentes rebeliões árabes há todo um momento social no velho continente que almeja a revoluções similares:


“As praças da Espanha poderiam ser um fenômeno conjuntural, de alguns dias de duração. Mas tudo indica que não é. Apesar do movimento não apresentar a massividade das revoluções árabes e seja mais de uma vanguarda jovem, impactaram as massas e tendem a se transformar em assembléias populares ao estilo da Argentina em 2001. É a expressão mais avançada de uma nova etapa que se abriu na Europa, com centro na Espanha e na Grécia, mas que tende a repercutir em outros países. A conexão dos movimentos na Espanha com o processo mais profundo da revolução árabe gera sua permanência.”[1]
Olhando para as repercussões e os indiscutíveis sucessos das insurreições que ocorreram no velho continente percebemos que as armas para se rebelar de forma eficaz contra todo tipo de opressão está facilmente ao nosso alcance também aqui no Brasil ou em qualquer país. Entretanto não vemos interesse pelas questões políticas mais profundas nem sequer na classe dos estudantes universitários brasileiros. Por mais fácil que seja buscar a culpa desse desinteresse na má educação ou num suposto interesse comum a longo prazo das perspectivas de mudança neste país, não devemos cair nesse discurso fácil, embora real , pois este é vazio quando tratado de forma isolada e como suficiente em si mesmo. Tantas são as possibilidades desse universo de informações e velocidades quânticas quanto são escassas a determinação da população (trabalhadores, estudantes, intelectuais).
O povo brasileiro de uma forma geral está satisfeito com a liberdade de expressão própria das “grandes democracias ocidentais” (Ver José Saramago), mesmo que essa liberdade valha menos do que realmente parece ser. Pergunto: Do que adianta uma liberdade para se expressar quando não se tem expressão ou pior ainda quando não sabemos nos expressar? Renato Russo muito novo, ainda no aborto elétrico já dizia: “se a voz do povo é a voz de Deus, será que Deus é mudo?” Por isso insisto em dizer que não me sinto parte desse povo, não posso compartilhar sonhos com quem adora a própria ignorância. Albert Einstein uma vez escreveu que a liberdade de expressão é inútil para o homem quando este precisa se esforçar demasiadamente de forma que não lhe reste tempo suficiente para dedicar-se ao exercício daquilo que anseia sua felicidade, isto é, o homem não terá o que pensar ou dizer se lhe for podado o direito e o dever de ser feliz junto a sua comunidade (Ver Ciência e Religião, Albert Einstein).
É comum vermos marchas evangélicas ou de qualquer outra doutrina de massa alcançar facilmente um milhão de pessoas, pois elas se sentem representadas e envolvidas por aquilo que dedicam seu tempo, esforço e dinheiro (às vezes muito dinheiro) e nessas marchas “por Deus, com Deus e para a família” (parece um slogan nazista) estão repletas de jovens que abdicaram do prazer de pensar e agir para ter a segurança de crer e obedecer. Pois bem, por que não vemos esse mesmo comprometimento com a vida em sociedade? Sim, digo vida em sociedade porque é isso a política, o meio mais eficaz de discussão e aprimoramento da vida em sociedade. Por isso comece com o mínimo, pergunte-se: Por que NÃO devo lutar?
A juventude é o novo sujeito dinâmico da luta de classes européia. Como gostaria de dizer isso de um suposto povo brasileiro, quem sabe um dia...

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